04/10/2008

Tá faltando sustança!






Ando meio cansado dessa conversa de Sustentabilidade. Na esquina da Rua Alvarenga com o começo da Rodovia Raposo Tavares, em São Paulo, um jovem berra: “Olhaí, simpatia, tem que ser sustentável todo dia!”.


E pendura no retrovisor do carro um saquinho de balas.

Por Percival Caropreso da Setor 2 ½

Um jovem senhor desempregado ganha a vida na esquina da Av. Faria Lima com a Av. Cidade Jardim, reduto da abastança mais do que da sustança, também em São Paulo. Na sua van, um cartaz: “Sanduíches duplamente sustentáveis: sustentam seu estômago e sustentam minha família”.

Até que é boa essa banalização da Sustentabilidade no nosso dia a dia. Pelo menos é melhor do que o uso e abuso da Sustentabilidade nos discursos, propagandas, releases e preces. Sobram palavras, faltam ações concretas.

A Sustentabilidade de verdade é prática: está na revisão do modelo mental e do modelo de gestão, de operação das empresas. Isso é simples, porque Sustentabilidade é um dos gestos mais antigos e instintivos da Humanidade. Significa sobrevivência hoje, com a visão de sobrevivência futura. Vem do Latim: SUSTENTARE, manter firme a partir da base. Como o sutiã (soustien). Ou como a gente sustenta nossa família, mantendo os filhos firmes hoje e preparando-os para o futuro a partir de alicerces, fundamentos básicos: proteção, alimentação, saúde, educação.

Um artesão da Idade Média já garantia a sustentabilidade do seu negócio através da compra mais eficiente de matérias-primas, do aumento da produtividade da sua oficina, da melhor distribuição possível da sua produção, de uma conta positiva entre o que ele gastava para produzir e o que ele ganhava com a venda. Sua visão de futuro só enxergava a preparação de seus filhos para tocar o negócio dali a alguns anos. Já era uma gestão sustentável para a época, na medida em que o negócio prosperava no presente e tomavam-se cuidados básicos para ele continuar prosperando no futuro. Pouco importava se a água contaminada de resíduos de cobre era despejada no riacho atrás da oficina. Se árvores eram abatidas para alimentar a fornalha, cuja fumaça jogava fuligem e poluía a aldeia toda. Se a mão-de-obra era praticamente escrava, inclusive com trabalho infantil.

O que vem mudando há séculos é o nível de pressão que as empresas têm para provar seu valor diante de um grupo de públicos de interlocução cada vez mais complexo e exigente. Esses interlocutores querem ver mais sustança na prática.

Percival Caropreso é publicitário e fundador da Setor 2 ½, assessoria de Pensamento Estratégico de Comunicação em Sustentabilidade e Responsabilidade Social para Empresas e ONGs.

Fonte: Portal IG - Ultimo Segundo - Sustentabilidade por José Pascowitch


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