13/05/2009

Tempo de Gifting na crise dos excessos


Marina Pechlivanis
Tempo de Gifting na crise dos excessos


“Ko Maru kai atu. Ko Marua kai mai. Ka ngohe ngohe”(O que você receber é o que deve dar; e é apenas disso que você vai precisar). Dirado Maori

Estamos sempre em crise. Segundo estudos, desde 1970, o mundo passou por aproximadamente 370 crises de origens vinculadas a contextos urbanos, todos relacionados com processos de formação e acúmulo de capital.

David Harvey, professor da Universidade de NY e precursor do materialismo histórico geográfico, associa crises a questões estruturais de excedentes de produção: “O que eu quero é que nos concentremos no controle sobre os excedentes: quem produz os excedentes, como são produzidos, por que e como são distribuídos?”

Para Massimo Canevacci, antropólogo italiano, vivemos na era dos excessos (x-s), do alheio, do irregular, do incontível, do XL (extra-large), do extra como além e como anomalia, das culturas eXtremas.

Oras, se a falta desequilibra, a sobra também. No sistema cultural em que nos inserimos, temos informações a mais, marcas a mais, produtos a mais… gerando mais e mais processos para dar vazão a cada vez mais informações, marcas e produtos.

Não precisa ir longe. Avalie seu repertório particular de objetos, em casa ou no local de trabalho — utilitários, acessórios, enfeites, peças de vestuário, gadgets tecnológicos… São coleções e coleções de Cds, de gravatas, de sapatos, de canecas… E queremos sempre mais! Especialmente quando são gifts, grátis.

E se o discurso é do reciclar, do conter, do economizar, como praticar o gifting de forma inteligente otimizando o “dar-receber-retribuir” no universo corporativo? Uai! Oferecendo boas ideias aos seus clientes, colaboradores, funcionários, parceiros de trabalho. Pode ser um objeto, pode ser um conceito, pode ser uma experiência, pode ser um aprendizado.

Falar é fácil. E na prática, como funciona? Para trazer exemplos de processos efetivos e não excessivos no planejamento estratégico de gifting, convido Paula Faria, diretora da Sator Eventos, empresa responsável pela organização do Unomarketing – Comunicação Consciente, feira e seminário internacional de marketing sustentável.

MP: Como impactar positivamente as pessoas sem impactar negativamente o meio ambiente?
PF: Estabelecendo relações verdadeiras com o seu público. E este conceito é muito mais amplo e deve estar na essência da empresa, no seu DNA, na missão, visão e valores. Mais do isso: tem que estar na prática da empresa, no dia-a-dia da empresa. No final, lá na ponta, quando desenvolver qualquer ação para impactar positivamente as pessoas, inevitavelmente questões como meio ambiente, desperdício e a verdade da mensagem estarão intrinsecamente ligados a qualquer movimento que a empresa fizer. E o consumidor percebe esta preocupação, este cuidado, este “carinho”.
Pouquíssimas empresas conseguem desenvolver ações com estes critérios, até porque pouquíssimas empresas conseguem ser na prática o que normalmente são no discurso. Mas as poucas que estão próximas desta prática vendem melhor, produzem campanhas melhores, e estabelecem boas relações com seu público alvo. E certamente são compensadas pelo esforço.

MP: Objetos, experiências e sensações. Como você planeja suas ações, encantando seu target de forma sustentável e focada?
PF: O primeiro passo certamente é entender profundamente o público antes de planejar qualquer ação. O segundo passo é ir além da ação convencional e aproveitar esta poderosa ferramenta que temos nas mãos – a comunicação – e passar mesmo conceitos de sustentabilidade e de consciência nas campanhas.
No tempo do descartável, das relações efêmeras e das amizades circunstanciais vale a pena investir em valores que ultimamente estão tão fora de moda, mas que são essenciais para as relações humanas e para a preservação de nosso planeta. E é possível fazer isto sempre!

MP: Ações memoráveis, investimentos contidos. Você tem algum case de sucesso?
PF: Acreditamos que pessoas e empresas responsáveis devem responder de forma consciente pelos seus atos: têm clareza sobre a sua atuação, os resultados que produzem na sociedade e no meio ambiente, e, principalmente, o que isso representa em termos de transformações de longo prazo.
A Sator tem como princípio a integração saudável ao meio ambiente por meio do desenvolvimento de relações sustentáveis nos negócios que desenvolve. E tem como desafio levar este conceito para todos os projetos e eventos desenvolvidos.
Para conseguirmos atingir este objetivo, trabalhamos duro para sermos um exemplo na prática de nosso discurso: com administração horizontal toda a equipe participa das decisões da empresa, investimentos e distribuição de lucros. E também promovemos ações para o desenvolvimento pessoal e da equipe para atingirmos os nossos objetivos.
A partir deste esforço, desenvolvemos o conceito do “Evento Consciente” para aplicarmos nos eventos realizados por nós e a cada evento percebíamos que podíamos fazer muito mais, e hoje o “Evento Consciente” tem um manual completo que inclui questões como acessibilidade, inclusão, redução de resíduos, triagem e destino correto dos resíduos, comunicação consciente dentre muitas outras ações. E aplicamos estes conceitos em todos os nossos eventos e para todo tipo de público.
Em 2008 decidimos disseminar todo este conhecimento acumulado e lançamos o Unomarketing – Comunicação Consciente, feira e seminário de marketing sustentável que será realizado de 02 a 04 de junho de 2009 na Fecomercio em São Paulo.
O Unomarketing lança o debate sobre o papel dos profissionais do setor no atual cenário mundial e certamente foi a nossa ação mais memorável, pois ela vai de encontro a nossa crença: promover a mudança que queremos ver no mundo! Acreditamos em nosso papel transformador, e trabalhamos para estar sempre no time das empresas do futuro, pelo exemplo e pela ação.


Taí a dica. Em tempos de crise, pratique o gifting. Nem a mais e nem a menos — na medida certa. Dicas, idéias, cases, sugestões? Gifting@umbigodomundo.com.br


* Marina Pechlivanis é sócia-diretora da Umbigo do Mundo Gifting e Comunicação, Mestre em Comunicação e Consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e integrante do Comitê de Serviços Promocionais da AMPRO.

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